sexta-feira, 2 de julho de 2010

Reading Latin, Introdução

Introdução

Gregos e romanos

De acordo com a tradição, Roma foi fundada por Rômulo em 21 de abril de 753. Ele foi o primeiro de sete reis. Em 509, o último rei (Tarquinius Superbus – “Tarquínio o Soberbo”) foi deposto, e iniciou-se a República. Isto foi reconhecido como o início do período da liberdade (lībertās). Durante essa época de governo aristocrático, Roma ampliou seu poder, primeiro para a Itália, depois para o Mediterrâneo ocidental (Sicília, Espanha, norte de África (Cartago)) e, por fim, para o Mediterrâneo oriental. Desde o início, Roma estava em contato com a cultura grega, pois colônias gregas haviam sido estabelecidas por volta do sétimo século na Itália e na Sicília. Ao norte de Roma, jaz uma outra cultura desenvolvida, a dos etruscos. Roma afinal conquistou a Grécia, em 146, encontrando-se portanto em posse do lar da mais prestigiada cultura do Mediterrâneo. A reação romana foi bastante complexa, mas três tendências principais podem ser notadas. Estavam orgulhosos de seus feitos militares e administrativos e, portanto, sentindo-se superiores aos gregos contemporâneos, aos quais haviam derrotado. Ao mesmo tempo, eles partilhavam da reverência pelos gregos contemporâneos em razão dos grandes feitos culturais dos gregos anteriores – Homero, Heródoto, Tucídides, os poetas trágicos e cômicos e os oradores. O resultado dessa atitude ambivalente era uma decisão razoavelmente consciente de criarem para si mesmos uma cultura digna de sua posição, como novo poder dominante. Essa cultura era modelada e imitada a partir daquela da Grécia em seu apogeu. Contudo, o orgulho dos romanos em si mesmos garantia que a cultura fosse latina e que sua literatura fosse escrita em latim, não em grego. As famosas palavras de Horácio ilustram a dívida de Roma à cultura grega:

Graecia capta ferum uictōrem cēpit, et artīs
intulit agrestī Latiō

“A Grécia capturada capturou seu selvagem conquistador, e arte
trouxe ao íntimo do agreste Lácio.”

Por outro lado, o poeta Propércio, contemporâneo de Virgílio, descreve a Eneida de Virgílio nos seguintes termos:

nescioquid maius nāscitur Īliade

“Eis que está surgindo algo, digamos, maior que a Ilíada ...”

Os romanos agora percebiam que sua cultura poderia pôr-se em comparação com a melhor outrora produzida pelos gregos. A veneração pelos gregos contrasta de grande modo, por exemplo, nos constantes ataques do poeta satírico romano Juvenal ao Graeculus ēsuriēns (“gregozinho faminto”), que refletia o desprezo aristocrático aos gregos modernos como a descendentes decadentes de um povo outrora glorioso. Entretanto, em todos os períodos, personalidades gregas eram tidas em grande estima em Roma (por exemplo, Políbio, Posidônio, Partênio, Filodemo). E, ao fim do primeiro século, Roma havia se tornado o núcleo cultural do mundo aos olhos não apenas dos romanos mas também dos gregos, cujos poetas, professores e filósofos agora para lá migravam. É parte da grandeza de Roma que, quando confrontada com a cultura grega, ela nem se subjugou de todo nem a atropelou esmagadoramente, mas aceitou o desafio, empreendeu-o tomando-a, transformando-a e transmitindo-a para a Europa. Sem a mediação de Roma, a cultura nos recantos mais remotos do antigo Império seria algo muito diferente do que foi e, compreensivelmente, muito menos rica.

Aqui, Cícero, um dos escritores mais influentes de Roma, lembra a seu irmão, Quinto (que foi governador na Ásia Menor, uma província romana amplamente povoada por gregos), simplesmente de quem ele tem sobre si responsabilidade, e a dívida que Roma tem para com essa gente:

“Nós estamos governando uma raça civilizada, de fato, a raça da qual se acredita que a civilização foi passada para outros e, seguramente, nós devemos dar os benefícios da civilização acima de tudo àqueles de quem nós a recebemos. Sim, não me envergonho de dizer isso, especialmente à medida em que a minha vida e história não deixam abertura para qualquer suspeita de indolência ou frivolidade: tudo o que eu obtive, eu o devo às descobertas e disciplinas que nos foram passadas pela mão da literatura e dos ensinos da Grécia. Assim sendo, nós podemos muito bem ser considerados como quem tem um dever especial para com esse povo, além e acima da nossa obrigação comum para com a humanidade; escolados por seus preceitos, nós devemos desejar demonstrar o que nós aprendemos, diante dos olhos daqueles que nos ensinaram.”

(Cícero, Ad Quīntum 1.1, traduzido da versão em inglês oferecida na introdução do Reading Latin)

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